Plantas sentem dor?

Escrito por Kátia Aguilera em 14/07/2021

Plantas sentem dor?

Algumas pessoas um pouco "insatisfeitas" com o movimento vegano usam de argumento que plantas também sentem dor e, portanto, os adeptos ao vegetarianismo e veganismo são cruéis com os alfaces, mas será? 

Um dos motivos que pode ter dado origem a esses rumores é um estudo publicado no site da SCIENCE que, de acordo com a Elizabeth Pennisi (2018), sugere que em uma planta uma folha se comunica com outra folha adjacente com a ajuda de um aminoácido chamado glutamato, que, depois de ser liberado, dá um gatilho para desencadear ondas de cálcio, fato que pode ter gerado um rebuliço em pensar que as plantas teriam algo parecido com a capacidade dos animais humanos e não humanos de sentirem dor já que suas células nervosas, quando excitadas, também têm ação do glutamato para levar informação às células nervosas adjacentes. 
 
Contudo, não é desconhecido no meio científico botânico que as plantas têm algum estímulo e que existe uma transmissão de sinais bioquímicos entre diferentes partes de uma planta em situações de “predação”. Por exemplo, quando alguma praga ataca uma folha, é emitido um sinal que vai de folha em folha avisando à planta para começar a se proteger. Porém, isso não significa que a planta está sentindo dor, o que não a iguala com um animal humano ou não humano dotado de senciência e consciência, visto que o próprio estudo escrito por Elizabeth Pennisi não cita qualquer relação com sentimentos, com a dor, com o sofrimento ou com a inteligência em plantas. Outras pessoas ativistas também se manifestaram em relação a este texto, como o Robson Fernando de Souza, do blog veganamente e autor do livro Direitos Animais e Veganismo: consciência com esperança. Ele comenta o estudo de Elizabeth como algo que, sim, aborda a transmissão de sinais bioquímicos que induzem o acionamento de um sistema biológico de defesa contra predação natural, desenvolvido por milhões de anos de evolução biológica, mas que é um processo que torna as plantas livres de qualquer necessidade de sentir e manifestar sofrimento e não o contrário.


Vale ressaltar que, graças à declaração de Cambridge (2012), foi anunciado sobre a consciência em animais não humanos:

“A ausência de um neocórtex não parece impedir que um organismo experimente estados afetivos. Evidências convergentes indicam que os animais não humanos têm os substratos neuroanatômicos, neuroquímicos e neurofisiológicos de estados de consciência juntamente como a capacidade de exibir comportamentos intencionais [...]” Cambridge, 2012.


Sabendo disso, tentar fazer uma conexão entre plantas e animais não humanos pelo fato que existe a ação do aminoácido glutamato é quase que uma tentativa de legitimar uma falácia lógica, pelo seu caráter inconsistente. 

Até que mais estudos científicos sérios e avançados provem o contrário, ainda não existe nenhuma “senciência ou consciência vegetal”. Até porque ninguém viu uma planta gritando de dor ou tomando decisões por aí, já viu?!
 



Por Kátia Aguilera
Estudante de medicina veterinária, vegana, entusiasta da causa animal e com espírito incansável no desejo para que todas as espécies sejam parte do círculo de compaixão das pessoas.