Comida afetiva: por que alguns veganos comem comidas parecidas com as de origem animal?

Escrito por Kátia Aguilera em 11/04/2021

Pesquisas mostram que o paladar e o olfato têm uma conexão direta com a memória olfativa e afetiva. Segundo Dragonetti [2017] o sistema límbico pode ser chamado popularmente de cérebro emocional, devido à conexão que ele faz entre o olfato e a nossa amígdala e ao hipocampo, responsável pelo armazenamento das memórias de longo prazo e geração de emoções associativas. Então, quando sentimos um cheiro ao comer um alimento, o sistema límbico e o hipocampo estão relacionados. O autor relata que quando um cheiro é sentido acontece uma associação a um evento, a um indivíduo, a uma coisa ou mesmo a um momento.

Isso pode explicar por que uma pessoa vegana pode buscar, em alguns momentos, por uma comida com aparência, cheiro e paladar parecidos, as chamadas comidas afetivas. Elas podem se encaixar com que se estava habituada a comer antes da transição e isso não é, necessariamente, um problema. 

A comida afetiva é experimentar um prato e imediatamente associar aquele sabor a uma lembrança de sua vida, relembrando de momentos e de pessoas… exemplos dos quais se tem capacidade de trazer um conforto inexplicável. Contudo quando se trata de uma dieta vegana, atender essa afetividade pode ser um desafio, já que a aparência daquela comida, também, pode causar repulsa quando se faz uma ponte com o sofrimento animal e toda cadeia de produção dessa indústria, motivos pelos quais ela escolheu o veganismo e mudou seus hábitos.

O importante é que cada um alcance seu equilíbrio dessa afetividade e que não se sinta culpado com o olhar do outro que não tem essa mesma necessidade de memória, o importante é saber que você já viveu num contexto sociocultural antes, mas que conseguiu quebrar o paradigma sobre o consumo de carne e produtos de origem animal quando ultrapassou a barreira da compaixão e compreendeu que os direitos dos animais são mais importante do que o nosso prazer alimentar.

O bacana é sempre expandir os horizontes culturais na alimentação e garantir diversidade nutricional para cada vez mais sair dessas “amarras” do passado, mas como toda mudança de hábito alimentar é lenta e gradual, os pratos com memória afetiva podem ajudar, e muito, uma pessoa que está em transição, então enquanto a transição por completo ainda não acontece está tudo bem usar substituições e garantir que essa memória afetiva gastronômica seja preservada, mas sem o sofrimento animal


DRAGONETTI, M [2017]. A função do sistema límbico na regulação da memória olfativa. Disponível em: <http://conic-semesp.org.br/anais/files/2017/trabalho-1000025472.pdf > Acesso em: 10 mar. 2021



Por Kátia Aguilera
Estudante de medicina veterinária, vegana, entusiasta da causa animal e com espírito incansável no desejo para que todas as espécies sejam parte do círculo de compaixão das pessoas.