Parceria entre BRF e Aleph Farms promete carne de laboratório no Brasil até 2024

Escrito por Artur Caliendo Prado em 11/03/2021

Imagine poder comer carne animal (mesmo gosto, mesma textura, mesmo cheiro, mesmos nutrientes... afinal, é carne animal) sem que haja abate nem sofrimento. Parece ficção científica? Mas não é. Através da reprodução de células em laboratório, startups conseguiram "produzir carne"! O processo ainda está em fase inicial e vai levar alguns anos para que se torne realidade (o custo de produção hoje seria impraticável), mas é um oásis para quem olha para os lados e não vê nada além das areias do deserto carnista.

Notícias como essa já vêm sendo veiculadas fora do país há algum tempo, mas a boa notícia é que ela finalmente chegou por aqui. A BRF, uma das maiores companhias de alimentos do mundo (fruto da fusão da Sadia e da Perdigão), anunciou no dia 4 de março de 2021 uma parceria com a Aleph Farms, uma startup Israelense, garantindo exclusividade na distribuição da carne cultivada deles aqui no Brasil.

Por conveniência e projeção oportunista de mercado ou não, a ideia da empresa é oferecer produtos como hambúrgueres, almôndegas, salsichas ou mesmo steaks até 2024. Ainda que só queiram lucrar em cima da demanda do mercado consumidor, isso pode abrir as portas para que mais empresas entrem no jogo, barateando os custos e expandindo a produção de carne sem sofrimento animal.

Grandes empresas estão de olho nesse mercado há algum tempo. Recentemente, o CEO da JBS, Gilberto Tomazoni, admitiu que a carne convencional será um luxo no futuro e que a maior parte da população consumirá alternativas vegetais.

A indústria de carnes cultivadas deve movimentar cerca de US$ 140 bilhões na próxima década, segundo projeções da Blue Horizon, que investe em proteínas alternativas.

Por que cultivar carne?

Carne de laboratório, carne cultivada, carne in vitro... todos esses nomes querem dizer a mesma coisa: liberdade animal, alimentação mais saudável, salvação ambiental.

Você já parou para pensar no impacto que a produção de alimentos de origem animal causa no planeta? Um jeito de medir isso é usando a pegada hídrica, uma medida calculada pela Water Footprint.

Seguem algumas médias globais da quantidade de água gasta para produzir alguns alimentos:

  • 1 kg de bovina: 15,5 mil litros de água.
  • 1 kg de queijo: 3.178 litros de água.
  • 1 kg de leite integral: 1.020 litros de água.

Ela também pode melhorar consideravelmente a saúde das pessoas. A carne de hoje em dia tem grande carga de resídios de antibióticos e outros medicamentos veterinários comumente usados para controle de infecções dos rebanhos, o que talvez não aconteça no cultivo de carne em laboratório por ser feita em um ambiente controlado.

De acordo com a organização Merci for Animals, esses são alguns benefícios da carne de laboratório em relação à carne tradicional:

🌱 impacto 92% menor no aquecimento global;

🌱 93% menos poluição;

🌱 diminuição de até 95% do uso de solo;

🌱 redução de 83% do uso de água.⠀

Isso tudo sem falar que a carne cultivada pode diminuir drasticamente o sofrimento dos animais, que hoje são tratados como propriedades dos seres humanos, objetos que podem ser trocados, vendidos e descartados.

Talvez você já seja vegetariano ou vegano e não tenha intenção nenhuma de voltar a comer carne, cultivada ou não. A grande vantagem dela, contudo, é fazer com que as pessoas que se recusam a abandonar os alimentos de origem animal parem de incentivar a matança e os maus-tratos em nome do paladar.

Fontes:

https://www.startse.com/noticia/startups/mission-barns-carne-laboratorio
https://www.embrapa.br/contando-ciencia/agua/-/asset_publisher/EljjNRSeHvoC/content/consumo-de-agua-para-producao-de-um-produto/1355746
https://autossustentavel.com/2020/03/pegada-hidrica-voce-sabe-quanta-agua-produzir-kg-carne.html
https://waterfootprint.org/en/resources/interactive-tools/personal-water-footprint-calculator/
https://www.instagram.com/p/CMSDH-4Djde/?igshid=fi9xs45jsrry
https://www.instagram.com/p/CMQdNxbFfbR/?igshid=fig87pmhh1n7


Por Artur Caliendo Prado
Programador inveterado, aspirante a escritor e vegano convicto, dando um passo de cada vez em busca de um mundo mais verde.