Reduzir não é a solução

Escrito por Artur Caliendo Prado em 29/07/2021

E se, ao invés de parar de comer animais e beber suas secreções, eu diminuir o meu consumo? Assim, eu ajudo a diminuir o impacto ambiental. Não preciso comer carne todos os dias.

Eu já pensei assim e aposto que muitos outros veganos também. A pergunta que precisamos fazer, no entanto, é se estamos atacando a raiz do problema. A resposta, é claro, é não.

O veganismo não é só uma luta para reduzir impacto, é uma mudança na nossa relação com as outras espécies. Não se trata de quantidade, mas da forma como enxergamos o planeta.

É bastante natural que o primeiro passo de quem começa a refletir sobre o que estamos fazendo com os animais e o meio-ambiente seja seguir para uma redução no consumo de produtos de origem animal, principalmente as carnes. Contudo, é importante que esse seja apenas um passo e não a solução final, já que os animais continuam sendo tratados como mercadorias, explorados em busca da produção infinita em um mundo de recursos finitos.

Parar a luta pela libertação animal e pelo uso correto dos recursos naturais neste ponto vai apenas fazer com que não nos sintamos tão mal com o que fazemos, mas o especismo continua. Muitas vezes, pensar que reduzir já é o bastante parte da premissa de que parar completamente de explorar os animais é muito radical e extremo, mas essa é uma premissa falaciosa: continuamos olhando pelo olhar do opressor, nunca pelo do oprimido.

Reduzir ajuda, mas não o suficiente, principalmente a longo prazo. Isso reduz a nossa dissonância cognitiva, não o problema, porque diz que o problema não é o que fazemos com os animais, apenas a quantidade.

Já pensaram em levar essa racionalização para outras de nossas lutas mais importantes? Não precisamos acabar com o machismo e o patriarcado, vamos só fazer um pouco menos. Ser anti-racista é muito extremista, vamos continuar com o racismo, mas em menor quantidade. Percebem a problemática? 

Por isso cada dia mais acredito no veganismo popular, temos que resolver o problema na raiz, encontrar a causa, mesmo que a causa seja uma batalha gigantesca contra nosso sistema econômico. Isso é assunto para outro dia.

Reducitarianismo e flexitarianismo ajudam? Ajudam. Mas é importante continuar a caminhada, encontrar um meio de acabarmos de uma vez por todas com a exploração animal e libertarmos o planeta do impacto que ela causa. Grande parte dos problemas do mundo podem ser resolvidos hoje. Dêem esse primeiro passo, se ainda não o fizeram, e continuem caminhando.
 


Por Artur Caliendo Prado
Programador inveterado, aspirante a escritor e vegano convicto, dando um passo de cada vez em busca de um mundo mais verde.